Depois dos dados oficiais anunciarem que Donald Trump é o próximo presidente dos Estados Unidos, milhares de mulheres revoltam-se e enchem as redes socias com a adesão ao 4B Movement.
O movimento feminista 4B, nascido na Coreia do Sul, representa uma forma de resistência ativa contra a opressão e desigualdade de género. Inspirado por palavras coreanas que significam “não” (Bihon, Bichulsan, Biyeonae e Bisekseu), o movimento recusa casamento, maternidade, relações com homens e sexo heterossexual.
Em 2019, o movimento surgiu como resposta à desigualdade profunda e à violência enfrentada pelas mulheres sul-coreanas, com foco na rejeição de padrões de beleza e papéis tradicionais que limitam a autonomia feminina. O 4B ganhou notoriedade internacional após a morte trágica de uma jovem coreana vítima de ódio misógino e agora é uma voz poderosa contraestruturas patriarcais.
Estima-se que este movimento esteja a contribuir grandemente para o baixo índice de natalidade no país.
4b Movement ressurge agora nos Estados Unidos
Após a reeleição de Donald Trump em 2024, o movimento atraiu a atenção de mulheres nos Estados Unidos, alarmadas pela reversão de direitos reprodutivos.
Enfrentando uma administração que defende políticas conservadoras sobre o aborto, mulheres americanas estão a olhar para o 4B como um caminho de resistência, recusando um sistema que perpetua a opressão feminina.
Com o retrocesso dos direitos das mulheres e a crescente crise da “masculinidade em risco,” o 4B é mais do que um protesto: é uma estratégia para subverter estruturas opressivas, incentivar a autonomia feminina e preservar a liberdade sobre os próprios corpos e destinos.
5b, 6b e por aí vamos
O movimento que já teve mais de meio milhão de pesquisas no google trends só nas últimas 24h, está a seguir para redes como o TikTok e começa a ganhar novos contornos. Estes novos submovimentos, para além de sugerirem o mínimo contacto e atenção com os homens, sugerem aderir a uma economia mais feminina, com menos consumo, com consumo de marcas detidas e geridas por mulheres e consumo de marcas que não objetifiquem as mulheres.
Estes movimentos explicam ainda que as mulheres devem estar atentas à “Pink Tax”. A “Pink Tax” refere-se à prática de preços mais elevados para produtos destinados a mulheres, em comparação com produtos similares para homens. Este fenómeno, muitas vezes atribuído à discriminação de género, afeta bens como vestuário, produtos de higiene e beleza, sem justificação económica, explorando as mulheres.
Na continuação da expressão destes movimentos sugere-se ainda que as mulheres deixem de se reunir em bares ou discotecas e comecem a encontrar alternativas para se divertirem. Como sabemos, muitos destes locais (a grande maioria detidos por homens), oferecem bebidas às mulheres porque elas são na verdade o produto que atrai os homens a estes locais.
Epidemia de solidão masculina
Estes movimentos vêm contribuir para a já assinalada epidemia de solidão masculina. Em 2023 estudos revelaram o crescimento deste fenómeno, relacionado com a independência e a ascensão das mulheres no mercado de trabalho e nos meios académicos, que tem obviamente consequências na forma como os homens e mulheres se relacionam. Historicamente o homem assumiu sempre o papel de provedor de família e, hoje em dia, muitos vivem na precariedade, não podendo prover para a família como as mulheres o fazem.
Nos relacionamentos românticos, os homens têm maior probabilidade de estarem solteiros e de terem menos relações sexuais do que as mulheres. Uma pesquisa do Pew Research Center de 2022 revelou que seis em cada dez homens com menos de 30 anos estão solteiros, quase o dobro da taxa das mulheres.
Já o estudo da Equimundo mostrou que cerca de um em cada cinco homens não procura um relacionamento ou não consegue encontrar parceiros sexuais.
Estatísticas sobre a solidão têm sido associadas a uma saúde mental e física debilitada. Especificamente, riscos acrescidos de morte prematura, doenças cardiovasculares, ansiedade, demência, depressão e AVC foram todos associados à solidão. No estudo da Equimundo, 40% dos homens atenderam aos critérios de sintomas depressivos, e 44% referiram ideação suicida nas duas semanas anteriores.
Além disso, os homens têm quase quatro vezes mais probabilidade do que as mulheres de cometer suicídio, representando cerca de 80% dos suicídios, apesar de constituírem apenas 50% da população. Em 2022, a taxa de suicídio entre homens nos EUA atingiu o seu pico de 14,3 por 100.000.